sábado, 26 de março de 2011

Querem mudar o nome do DNOCS


Mudar o nome do DNOCS pra quê?
Com o título “Patrimônio do povo nordestino”, eis artigo do engenheiro Cássio Borges abordando desejo do ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) de querer mudar o nome do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dmocs). Confira:
Sob o título “Ministro Quer Mudar o Nome do DNOCS”, entre outras declarações feitas por S.Exa., segundo matéria publicada neste Blog no último dia 18, inclusive a de que aquela entidade poderá ser a Operadora Federal do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional, o senhor Fernando Bezerrra faz referência à instituição como aquela que “já está em idade de mudar de nome”. Não é de hoje que se cogita mudar o nome daquele tradicional organismo federal do atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas para Departamento Nacional de Convivência com as Secas, o que, segundo os seus mentores e fautores, manteria a mesma sigla: DNOCS. Uma questão de semântica sem nenhum objetivo prático.
Este novo nome se vier a ser confirmado, ao pé da letra, alude à ideia de que a população nordestina será entregue à sua própria sorte, portanto deverá “conviver” com as dificuldades geradas pele própria Natureza. A palavra “convivência” dá a ideia de “aceitação”, “acomodação”, “conformismo”, “renúncia” e “resignação”. Um ex-diretor-geral do DNOCS dizia à época, que uma das justificativas dessa extemporânea decisão, seria uma “questão de marketing”. Para mim, este inusitado argumento é destituído de qualquer lógica, embora reconheça que o DNOCS precisa, de fato, divulgar os seus extraordinários feitos e realizações. É comum novos governantes e dirigentes pretenderem mudar o nome das Instituições com o único propósito de deixarem, através dos tempos, registrada a sua marca. Mas o que interessa isso às comunidades? Para a população nordestina o que interessa é modernização dos órgãos, no caso do DNOCS potencializar o seu “know-how” e renovar seu quadro de técnicos e funcionários para torná-lo mais eficiente. Acredito que tal iniciativa não tenha partido do Ministro, mas de algum dos seus assessores que não devem ter maiores vínculos com a nossa Região e que, por trás disso, tenham outras intenções.
Outro argumento seria porque na denominação atual existe a expressão “contra as secas” que, no meu entendimento traduz a obstinada “luta” dos técnicos daquele Departamento para mudar a face da desventurada e rústica paisagem nordestina. A expressão “contra as secas” passa a ideia de “lutas”, “determinação”, “vontade”, “conquistas”, “inconformismo”, “superação”, portanto mudança do “status quo”. A justificativa atual apresentada pelo ilustre Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, para mudar o nome do internacionalmente conhecido Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS) é que ele “já está em idade de mudar de nome”. Sei que a referida autoridade assumiu aquele Ministério há muito pouco tempo, portanto é perceptível que ele apenas esteja dando andamento o que já havia sido decidido nos bastidores daquele organismo federal de tal forma que não desejo imputar a Sua Excelência esta lamentável decisão reveladora, no mínimo, da falta de cultura dos seus perpetradores localizados naquele Ministério.
Se a questão for valorizar aquele importante organismo federal, patrimônio do povo nordestino, é muito mais lógico e oportuno resgatar a sua gloriosa história de lutas “contra as secas” que, diga-se a bem a verdade, tem sido a sua brilhante trajetória na outrora inóspita e inviável região nordestina. Felizmente, a custa de muitos sacrifícios dos seus técnicos e funcionários desde os primórdios de sua existência, isto é importante reconhecer, o abjurado e menosprezado DNOCS que, há tempos, já merecia um memorial, mudou, e continua mudando, esta triste realidade.
Permanecer com o nome atual, mundialmente conhecido e respeitado, ou mudá-lo por motivos fúteis, é como disse anteriormente, uma questão de semântica. O melhor exemplo disto é o Bureau of Reclamation, dos Estados Unidos, o maior organismo do mundo em matéria de recursos hídricos, que é apenas anos mais velho que o DNOCS. Se fosse o caso, o nome daquela também secular e respeitável instituição teria que mudar seu atual nome de Birô de Reclamações (Bureau of Reclamation) para outro qualquer ao belo sabor dos dirigentes de plantão. Reclamação de que, perguntariam.
Em que isto influi no extraordinário desempenho daquela entidade que é requisitada no mundo inteiro para resolver os mais variados e complexos problemas relacionados às suas especialidades, inclusive no Brasil? Outros exemplos brasileiros: A geração de 50 fez a PETROBRÁS e, na década de 90, um ex-presidente da República cogitou de mudar o nome daquela empresa para PETROBRAX. Houve reações contrárias, mas, felizmente, essa ideia, considerada à época, constrangedora abortou. Recentemente um Ex-dirigente do Banco do Nordeste do Brasil quis mudar a sigla daquela instituição de BNB para BN. Houve uma forte reação dos seus funcionários contrários a tal inconcebível mudança.
Acredito que este propósito de mudar o nome do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), seja invenção dos seus inimigos e detratores, principalmente, desculpem a minha franqueza, daqueles que professam a doutrina neoliberal, ainda muito presente, como uma herança funesta, nos escaninhos de Brasília. Esta filosofia neoliberal professava a extinção de organismos federais, principalmente nordestinos, o que ficou sobejamente comprovado quando da elaboração da chamada Lei das Águas, nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, assinada pelo Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, a qual foi comandada por técnicos de São Paulo, que omitiram inadmissivelmente , naquele documento, os nomes do DNOCS e da SUDENE, as duas mais importantes instituições federais de nossa Região.
Por: Cássio Borges é engenheiro civil, ex-diretor regional do DNOCS e de sua diretoria de Estudos e Projetos.

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